6 de dezembro de 2009

22 de abril de 2009

- Olha o que a Avó te trouxe...
- 'Ibos de Pindar!!!
- Sim, livros de pintar. E trouxe lápis de cor também.


Raramente me oferecia brinquedos. Preferia comprar-me livros infantis ou livros de pintar.


- Olha, vou-te ensinar a escrever o teu nome.
- Mas eu já sei...
- Mas vou-te ensinar a escrevê-lo de uma forma bonita! Assim, quando fores para o 1º ano, já vais saber como é, porque lá vão-te ensinar a escrever da forma que a Avó te vai explicar.
- 'Tá bem!


E lá me ensinou a escrever Teresa na sua caligrafia desenhada. (e como eu sempre adorei a sua caligrafia)


- Então diz lá, de que disciplina gostas mais?
- Ah... Eu gosto de todas.
- E não tens nenhuma que prefiras?
- Estudo do Meio, acho eu. Agora estou a dar um pouco da História de Portugal.
- Muito bem. Lembras-te dos meus livros da escola primária? Eu tenho um de História de Portugal. Queres vê-lo?
- Sim! No teu tempo os livros eram tão pequeninos.
- Mas no meu tempo aprendiamos muito mais!


Perdi a conta às vezes que ia ao seu quarto buscar os velhos livros. Tinha apenas o de História e de Português. De certa forma, foi graças a ela que a minha paixão por estes dois temas nasceu.


- Mana, o qu'é que a 'Vó tem?
- Alzheimer.
- O que é Alzhe... Alzhai...
- Alzheimer, Jo. É uma doença da cabeça, percebes? A 'Vó vai-se esquecer das coisas, e vai ter dificuldades no que costuma fazer no dia-a-dia... E até se pode esquecer das pessoas, de quem elas são.


Curiosamente, fui a única de quem ela se esqueceu...


- Mana, a 'Vó pediu-me para eu lhe dar o meu nenuco.
- Hã? Mas porquê?
- Não sei. Mas agarrou nele e está a chorar...


E chorava sim, embalando o boneco, como se fosse uma criança que tivesse nos braços.


- Mana... 'Tá ao telefone uma senhora do hospital. Ela quer falar com a mãe ou com o pai, mas eles 'tão a tomar banho...
- Eu vou lá, não te preocupes.


...

- Estou?
- É a filha da senhora Maria de Jesus?
- Não, é a neta mais velha...
- A sua mãe não está?
- De momento é-lhe impossível atender.
- Ok... É para informar que a senhora Maria de Jesus faleceu esta manhã...




21 de Abril de 1927 - 24 de Abril de 2004

13 de março de 2009

Winter is
the cry of a violin
announcing solitude and inspiration;
the metaphoric suicide of a poet
or the homicide of a character.

...blood in the white snow...

Winter is
a peaceful tragedy
masked with the bright smile
of a little child.

Às vezes gosto de escrever em inglês... Peço desculpa por algum erro escrito/gramatical.

24 de fevereiro de 2009

Apetece-me mudar de ares. Estou cansada de ver sempre as mesma pessoas, de sentir sempre os mesmos cheiros, de estar rodeada sempre das mesmas cores. Apetece-me ver o céu de outro ângulo, ver tonalidades diferentes. Actualmente, mudar é-me necessário. Hoje, mais que nunca.

And sometimes is seen a strange spot in the sky
a human being that was given to fly

Given to Fly - Pearl Jam

6 de fevereiro de 2009

- Andas em baixo. Estás mais magra e mais pálida. As olheiras já se notam bastante. O que é que tens?
- Falta de vontade.
- Não digas isso.
- Não percebeste. Tenho falta de vontade de desistir. 
- Não acompanhei...
- Não quero desistir. Falta-me a vontade para tal. E, apesar do meu aspecto físico estar assim, numa lástima e a um passo que querer desistir, a minha falta de vontade não o permite.
- Estou a ver. Sabes que te percebo nisso.
- Hum hum... Deves ser das poucas pessoas.
- E... O que é que te tira a vontade de desistir?
- Vontade de vencer.
- Apenas isso?
- Talvez. Talvez não.
- E quando venceres? O que será de ti? Terás aí vontade de desistir?
- Não, porque nunca irei vencer...
- Oh Teresa!
- Calma, deixa-me explicar. Nunca irei vencer porque, mal eu consiga ultrapassar um obstáculo, automaticamente irei impôr outro obstáculo a mim mesma. Assim, nunca irei vencer, pois nunca chegarei à meta.
- Mas assim nunca chegas ao teu verdadeiro objectivo.
- Talvez o objectivo desta teoria seja mesmo esse.
- Não estou a perceber.
- O verdadeiro objectivo talvez não seja o de chegar à meta. Isso seria o fim. Não me interessa chegar ao fim. Prefiro ficar pelo meio. Depois do fim, não teria mais nada por que lutar. Ficando pelo meio, tenho sempre um objectivo a concretizar. E, voltando ao que disse, sempre que vir que a meta está próxima, criarei mais um objectivo, prolongando assim o meio do percurso.
- Interessante, sem dúvida. 
- Talvez.
- E vais vencer nesse teu propósito?
- Neste? Sem dúvida que sim. É a única vitória que imponho a mim mesma.

Gosto de escrever em itálico.

Desculpem-me a ausência...