26 de janeiro de 2009

- Desde que a criança nasceu, nunca mais me deste a atenção que eu mereço.

Disse ele, de forma arrogante.

- Isso não é verdade! Mas deves perceber que a tua filha tem apenas 3 meses de idade. É uma bebé! Precisa de atenção, cuidados, carinho...

Disse ela, abraçando a bebé.

- Precisa o quê? Essa criança tem é demasiado mimo. Andas sempre à volta dela, e depois dá nisto. Uma mimada...

Rebateu ele, olhando com desdém para a criança.

- Mas ela está com anemia! Precisa de cuidados redobrados caramba!

Ela já não conseguia esconder as lágrimas que teimavam em surgir.

- Já te disse! Ela é uma mimada! E já me fez pagar uma conta grande na farmácia! Desde que nasceu, só me tem dado despesa!

Disse ele de forma exasperada, sentando-se no sofá e abrindo o "Record".

- Como é que podes falar assim? A tua filha está doente, e tu nem assim consegues ter um pingo de afecto?

A náusea apoderou-se da jovem mãe.

- Minha filha? Só o é por um acidente! Eu já estava satisfeito com as minhas duas filhas do meu primeiro casamento... Esta veio por vir.

anemia emocional, palavras semi-ficcionais

15 de janeiro de 2009

e agora questiono-me.

será que mereces que ainda sangre por ti?

será que mereces que me sinta velha?

será que mereces que a chuva leve consigo a minha vitalidade?

foquemo-nos nos factos...:

deitei anos da minha vida pela janela fora, e tu não os aparaste.

apenas pisaste os cacos em que eles se transformaram.


e eu

s
a
n
g
r
o


ainda mais ao constatar a realidade
.
.
.

o tempo continua a passar por mim, e o fardo é cada vez mais pesado.

mas um dia,

u
m

d
i
a

q
u
e
m

s
a
b
e
.
.
.




"I know someday you'll have a beautiful life
I know you'll be a star
in somebody else's sky"
Pearl Jam - Black

8 de janeiro de 2009

olha para nós.

nós? lá estou eu a delirar novamente... o nós acabou faz tanto tempo. agora apenas existe o tu e o eu. porquê?

não, não olhes para nós. olha antes para o egoísmo que nos caracteriza. sim, foi por esta razão que a 1ª pessoa do plural foi

assassinada

mesmo à porta dos nossos corações.

repara no tempo. vê como ele passa e nem sequer olha para trás. olha como ele passa entre o vazio dos nossos corpos, sem um pingo de

compaixão

ou

p
i

e
d
a

d
e

.
.
.


não, ele não parará para nós. não te iludas com essa perspectiva utópica.

sabes, a chuva é intensa lá fora, e eu sinto-me

o velha...

os corvos estão a chegar, e eles conseguem ser mais agrestes que o tempo. eles sabem que ainda sangro a tua ausência...


poderiamos ter sido tanto! poderiamos ter feito tanto!


somos loucos, meu querido. tão loucos...

7 de janeiro de 2009

- Acreditas no Amor?
- Não.
- Hum?
- É uma palavra muito subjectiva. Depende do sentido que lhe dás. O que para ti é Amor, para mim não é.
- Mas achas que ele existe?
- Acho que são poucas as pessoas que têm a capacidade de o tornar real.
- Tu tens?
- Não.
- Acreditas?
- Sim.
- Em quê?
- Nas sensações.
- Elas podem mentir.
- Obviamente.
- Então...
- As minhas sensações não me mentem.
- Mas as das outras pessoas...
- Impulsos.
- Quê?
- Acredito nos impulsos das outras pessoas. São reacções espontâneas, genuínas.
- Percebo.
- Julgas que sim.
- Hum?
- O que percebes pode não ser a realidade.
- Pois...
- Mas pode ser a tua realidade. E a tua realidade é diferente da minha.
- Relatividade?
- Certamente.
- Mais alguma coisa?
- Hum?
- Acreditas em mais alguma coisa?
- Acredito.
- Sim...
- No que me influencia, no que me molda, no que me ensina.
- Mas pode o que te molda pode não ser o mais correcto...
- O certo e o errado são relativos.
- Claro.
- Além disso...
- Sim?
- Se não acreditasse no que me influencia, molda e ensina...
- Sim...
- Não acreditaria em mim.


Escrito à 1 ano e meio. Continua tão actual...