28 de dezembro de 2008

Hoje escrevo.

Para mim.
Para ti.

Não.

Escrevo antes para o nada.

Sim, o nada. Esse nada que.

Rodeia.
Envolve.
Ilude.
Consome.
Agonia.
Enlouquece.
Mata. Aos poucos. Aos poucos.

E aos poucos os sinos dobram. Contam as horas. Aos poucos.

O cigarro é consumido também.

Não pelo nada. Pelo fogo.

Fogo que mal se vê.
Não faz mal.
É compensado pelo fumo. E pelos desenhos por ele traçados.
E palavras até.

Palavras.

Aos poucos surgiram. Aos poucos se desvaneceram. Aos poucos.

E o nada. Sim, o nada.
O nada que é quase tudo. Quase, apenas.

Tu nada, que. Que surges e preenches. És, afinal, quase tudo.

Diz-me nada. Quem és? O que és?

Não me respondes. Novamente.

Enigma. O nada e tu. Sim, enigma.

Lá fora.
Dobram os sinos.

Cá dentro.
Dissipa-se o fumo.

Mas ainda não me morreste.

Quem?
Tu nada? Tu, para quem hoje eu não escrevo?

Não sei.
E vocês. Tu e nada.
Também não.

Aos poucos, saberemos.

Aos poucos.
Enquanto os sinos dobram.
E as horas são contadas.

Aos poucos.
Enquanto lemos o fumo.
E o cigarro se consome.

Aos poucos.

Escrito a 31 de Outubro de 2007

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